20 de abr. de 2014

Meu desejo para esta Páscoa e todas as outras


A morte chega cedo, 
Pois breve é toda vida 
O instante é o arremedo 
De uma coisa perdida. 

Fernando Pessoa

Também ganhei chocolate na Páscoa quando criança e até hoje. Mas desde esse tempo aprendi seu significado, mesmo sem saber, na época, o que significava a palavra significado. Mas aprendi: Vida. Páscoa é Vida. Renascimento. Recomeço. E entre um chocolate e outro. Entre o ninho cheio e o ninho vazio, essas palavras se repetem e se resignificam. Independente de religião. Não tenho mais religião, graças a Deus, a literatura, a poesia, a capacidade de pensar e de fazer escolhas. Acredito na Vida.

Mas não vim falar das minhas escolhas, nem de religião.

Nesta Páscoa, que é Vida, a morte, a indiferença, a ausência, não saem da minha cabeça.

O Bernardo não sai da minha cabeça. A solidão não sai da minha cabeça. A voz do que pede socorro não sai da minha cabeça. A omissão não sai da minha cabeça. O desafeto de quem deveria dar afeto não sai da minha cabeça. A criança perambulando de casa em casa sem um lar não sai da minha cabeça. A lucidez de uma criança não sai da minha cabeça. A falta de lucidez de quem deveria defender e proteger não sai da minha cabeça.

O grito do Bernardo pedindo socorro ecoa, neste domingo de Páscoa silencioso e não sai da minha cabeça.

Meu desejo, nesta Páscoa que é Vida, apesar da morte, é que a voz de quem sofre seja ouvida. É preciso falar, mas sobretudo é preciso que alguém escute.

Não tenho muita coisa pra dizer. Não sei o que dizer. Meu silêncio grita neste domingo de Páscoa que é Vida. Aprendi assim desde criança. Mas tive a oportunidade de ser criança e de ser ouvida.

O Bernardo, neste domingo de Páscoa que é Vida, não. A morte, apesar do desejo da vida, o silenciou para sempre. 

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