A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
Fernando Pessoa
Também ganhei chocolate na Páscoa
quando criança e até hoje. Mas desde esse tempo aprendi seu significado, mesmo
sem saber, na época, o que significava a palavra significado. Mas aprendi: Vida.
Páscoa é Vida. Renascimento. Recomeço. E entre um chocolate e outro. Entre o
ninho cheio e o ninho vazio, essas palavras se repetem e se resignificam. Independente
de religião. Não tenho mais religião, graças a Deus, a literatura, a poesia, a
capacidade de pensar e de fazer escolhas. Acredito na Vida.
Mas não vim falar das minhas escolhas,
nem de religião.
Nesta Páscoa, que é Vida, a morte,
a indiferença, a ausência, não saem da minha cabeça.
O Bernardo não sai da minha
cabeça. A solidão não sai da minha cabeça. A voz do que pede socorro não sai da minha cabeça. A omissão não sai da minha cabeça. O desafeto
de quem deveria dar afeto não sai da minha cabeça. A criança perambulando de
casa em casa sem um lar não sai da minha cabeça. A lucidez de uma criança não
sai da minha cabeça. A falta de lucidez de quem deveria defender e proteger não
sai da minha cabeça.
O grito do Bernardo pedindo
socorro ecoa, neste domingo de Páscoa silencioso e não sai da minha cabeça.
Meu desejo, nesta Páscoa que é
Vida, apesar da morte, é que a voz de quem sofre seja ouvida. É preciso falar,
mas sobretudo é preciso que alguém escute.
Não tenho muita coisa pra dizer. Não
sei o que dizer. Meu silêncio grita neste domingo de Páscoa que é Vida. Aprendi
assim desde criança. Mas tive a oportunidade de ser criança e de ser ouvida.
O Bernardo, neste domingo de
Páscoa que é Vida, não. A morte, apesar do desejo da vida, o silenciou para
sempre.
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