18 de out. de 2010

O homem, eu, Deus e o grito

Não vou ao centro de POA com tanta frequência. Não porque não goste. É agitado, muitas pessoas, de todos os tipos, idade, cor, pra todos os lados. É interessante. Mas meu dia a dia acabou me levando pra outro rumo.
Nesse sábado fui. Tinha um compromisso lá perto e aproveitei para comprar umas coisas que precisava.
Depois das compras, caminhava pela famosa Rua da Praia quando ouvi gritos, uma voz grave, de um homem.
Continuei caminhando, me aproximei até conseguir avistá- lo. Todos olhavam.
O homem, aproximadamente 65 anos, caminhava com uma Bíblia na mão e gritava. Caminhava de um lado pra outro e gritava.
Gritava por Deus. Chamava por Deus em alto e bom som. E todos olhavam, espantados, curiosos.
Ele chamava por Deus e perguntava pela justiça.
"Onde estás Deus, que não vês o que eles fazem?"
"Onde está tua justiça Deus?"De Bíblia na mão questionava Deus no meio da multidão.
Lembrei-me do "homem louco" de Nietzsche que com um candeeiro na mão procurava por Deus.
No caminho de casa fui pensando no homem. Me perguntava se era louco. Me perguntava como havia ficado assim. Me perguntava como teria sido sua vida. Como conhecera Deus, se conhecia e que deus era esse.
Quem seriam "eles", os quais ele se referia? Seriam maus? Seriam os "remidos"?
Que justiça ele procurava? Pra quem?
Obteve respostas? Continuará buscando? Não sei.
Também continuo sem respostas em relação ao homem. Não questiono Deus dessa forma, mas tenho cá minhas perguntas. 
Foi bom lembrar que tenho acesso direto à Deus. Que posso perguntar, pensar, refletir.
Algumas respostas tenho, outras não. 
Mas Ele está aqui, perto, sempre, até mesmo quando me silencio. 
Lembrei também, que tenho gritos presos na garganta, mas não são para Deus. 
Às vezes dá vontade de gritar, então, escrevo.

11 comentários:

  1. Que bela crônica Taiana, cheia de vida. Ah, acho que já vi esse homem, ali, no fim da Rua da Praia...se não era ele, com certeza, era outro, bradando a Deus. Mas, Ele está, aqui, ali, no silêncio, no seu coração, nos nossos. Belo texto. E quando tiver vontade de gritar, grite em forma de belos textos como este. Um bom dia, boa semana, beijos :)

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  2. Suzi, obrigada pelos comentários tão carinhosos. Tb sigo teu lindo Blog.
    Bjs pra ti :)

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  3. Tai,

    Quero continuar ouvindo seus gritos.

    Um beijo,

    Laion

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  4. Laion querido, obrigada pelo comentário.
    Ouvirá!
    Bj

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  5. Oie Tai, eu diferente de vc, quanto estou em Porto Alegre, faço questão de ir no centro. Acho tudo aquilo ótimo! Por incrível que pareça! rs

    Mas eu acredito que é pelas boas recordações que eu levo da "minha Porto antiga". Quando pequeno, morávamos no centro, e uma figura que eu encontrava e conversava todos os dias era um velho também. Eu não sabia que ele era direito, mas quando ele estava de bom humor, raros dias, ele resolvia conversar comigo. Fazia milhões de perguntas, eu adorava ele... apesar de ele ter um cheiro estranho, cheiro que me fazia lembrar da casa da minha avó materna.

    Depois de meses conversando com ele, minha mãe disse: - "Leva esse bolo pro teu amigo hoje, o poeta." Eu nem sabia que ele era poeta, e disse: - "Que poeta mãe?". Ela me olhou e disse: - "O Mário Quintana oras, aquele senhor que tu falas todos os dias lá em baixo na praça".

    As vezes os homens mais brilhantes se escondem atrás de velhos estranhos no centro das cidades. Eles se travestem de velhos loucos e fedorentos para falar ao coração de pessoas que não são muito diferentes disso.

    Linda história, viva os velhos da praça! rs

    Bjs no teu coração! Teu fã!

    Soli

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  6. Oi Taiana, que bela forma de gritar, escevendo, este para mim é e sempre será o grito mais lindo mundo.
    parabéns
    Iara

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  7. Oiii

    achei sue blog em ouro blog, smepre faço isso e tive uma grata surpresa ao vir aqui, achei muito bom e passei a te seguir.

    o grito escrito não é calado, mas sim reprisado

    voltarei outras vezes

    bom domingo

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  8. "Lembrei também, que tenho gritos presos na garganta, mas não são para Deus.
    Às vezes dá vontade de gritar, então, escrevo."

    Falou tudo.

    Também escrevo sobre coisas que me sufocam, que não consigo resolver, que não estão sob meu controle (não tenho quase nada sob controle...).

    Muito lindo. Adorei. Beijos!

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  9. Oi, Taiana! Fato intrigante mesmo. Eu não tenho essa memória de Nietzsche. Que maravilha!
    Terminei a leitura. Só tenho que agradecer por você emprestar os seus olhos e narrar os fatos com um distanciamento honesto, sem manipular nada. Lindo a maneira como você aceita o seu não saber além do que viu no homem, o não saber do homem. Eu não sou tão honesto, faria um conto disso. [sorrio]. Abraço!

    “Para o legítimo sonhador não há sonho frustrado, mas sim sonho em curso” (Jefhcardoso)

    http://jefhcardoso.blogspot.com

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  10. Que texto incrível, que ótimo blog!
    Identifiquei-me completamente, até encontrei postagens semelhantes... :)
    Já está nos meus favoritos!

    Beijo!

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