3 de fev. de 2011

Pessoas perfeitas não são confiáveis...

Parece ser bastante comum relutarmos em trazer à luz o que verdadeiramente somos, pensamos, cremos e sentimos. Relutamos em dizer a alguém, não gosto, não gostei, não quero, não concordo, não acredito, não vou, não consigo, estou machucado, estou cansado, caí...

Agimos assim, em parte, porque nos condenamos a nós mesmos - somos alvo de nossos próprios preconceitos, exigências e legalismos -, em parte, também, porque tememos a exposição, a incompreensão, a rejeição, o julgamento, a crítica e a confrontação que vêm dos outros.

Esta atitude, em primeiro lugar, nos impede de viver na plenitude a experiência da comunhão. Sem transparência, sem confissão, não é possível experimentar a plenitude da comunhão, porque comunhão implica aceitação e quando eu não sou verdadeiro, inteiro diante do outro, o outro não me aceitará, porque nesse caso, a aceitação se torna uma impossibilidade; o máximo que o outro poderá fazer, enquanto me esforço para parecer ser o que de fato não sou, é aceitar aquilo que eu quero parecer ser.

Só quem se expõe sabe o que é ser amado. Apenas quem se expressa com autenticidade pode conhecer a genuína experiência de ser aceito. Se eu me escondo, me disfarço, dissimulo, me protejo, no fundo sempre saberei que o amor que porventura alguém me dedique é, na verdade, dirigido a uma outra pessoa, virtual, ilusória, falsa, inexistente.

Quando confiamos no amor de Jesus e nos lançamos à aventura de ser o que realmente somos, nos expomos, na verdade, à real possibilidade de sermos transformados segundo a vontade dEle e descobrimos que o amor das pessoas por nós não é reflexo do que elas pensam que somos, mas é reflexo do que Ele é.

Outra consequência da nossa resistência a sermos verdadeiros e transparentes, mesmo que isto implique expor facetas do nosso caráter, do nosso temperamento e da nossa história, das quais não nos orgulhamos, é que adoecemos. Adoecemos na alma, ficamos cansados, esgotados mesmo, perdemos a alegria, o prazer de viver, de conviver, tamanha a energia dispensada para parecer o que não somos, tamanho o esforço mental exigido para forjarmos uma atitude, um tom de voz, uma expressão, um sorriso, tamanha a fortaleza que precisamos erguer e defender para manter fora do alcance e da vista dos outros e, portanto, nas trevas, aquilo que, julgamos, seria motivo de nos rejeitarem, desprezarem e deixarem de confiar em nós.

Esquecemos que pessoas perfeitas não são confiáveis; não são confiáveis simplesmente porque não existem. Verdadeiramente atraentes são as pessoas perdoadas. Tornam-se atraentes por terem a leveza de quem se libertou da "opressão da opinião humana", como diz Dallas Willard, atraentes por estarem livres do pecado do orgulho, atraentes por causa alegria de simplesmente ser, atraentes porque livres do medo que acua, intimida e gera agressividade, atraentes pois, na medida em que simplesmente são, permitem que os outros simplesmente sejam.


Sobre andar na luz por Claudio Manhães 
http://www.ibab.com.br/palavra-pastoral.php?id=189

6 comentários:

  1. Lindas e sábias palavras.
    Lindo Blog. Já estou te seguindo.
    Bjussss
    Sil

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  2. Nossa, eu concordo com quase tudo que vc disse. Tirando a parte de Jesus, que acho que ficou solta, o texto tá perfeito. Gosto do seu jeito de dizer. E estou sendo verdadeiro. Beijos.

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  3. "Só quem se expõe sabe o que é ser amado. Apenas quem se expressa com autenticidade pode conhecer a genuína experiência de ser aceito". Cada um sabe das dores e das delícias de se ser como é!

    Bom texto!

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  4. Aaaah...quando eu visitei o seu blog acabei não vendo este artigo, muito bom,já refleti sobre ser quem eu sou e não ser aquilo que a sociedade impõe.

    gostei de ... [...]na medida em que simplismente são, permitem que outros simplesmente sejam[..]

    mais uma vez...grato pelo texto...xD

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  5. Gostei muito do post e lembrei automaticamente de uma frase incrível do Brennan Manning que nos alerta para não sermos o tipo de pessoa "que todos admiram, mas que ninguém verdadeiramente conhece"....mais ou menos assim.

    Não há nada mais libertador do que sermos livres da expectativa alheia e até das nossas próprias expectativas e vivermos e convivermos com nossa crueza e beleza, nos sabendo plenamente amados e aceitos Nele.

    =)

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