dentre as inúmeras coisas que gosto na vida, uma é a palavra. escritas,
faladas e até das que ainda não foram ditas. me encanta a história das pessoas.
impressionante como sempre tem alguém que tem alguma pra contar. quando percebo,
estou ouvindo mais um capítulo. só que às vezes essas histórias me pegam de
surpresa e me deixam no mais absoluto silêncio. as palavras escapam, somem, me
pregam uma peça e simplesmente não dão o ar da graça. eu que me acho tão amiga
delas, me sinto absolutamente só. insuficiente. o Carpinejar escreveu uma
crônica, no livro, “o amor esquece de começar”, chamada “os pássaros comem na
mão” (já citei aqui no blogue), que consegue expressar um pouco do que eu senti
hoje.começa com a afirmação, “a minha dor eu sei resolver”. mas a negativa que
nos perturba é:
“o que não sei resolver é a dor do outro. fico mudo, meu braço sobra, minha mão
falta, minha boca treme algum vento sem força. a dor do outro não se comunica.”
não, não há comunicação razoável. ao me deparar com as palavras doloridas de
uma desconhecida, só o que me restou foi uma expressão de espanto e lágrimas
nos olhos. afaguei seu braço, olhei nos seu olhos e incrédula me reduzi a um “sinto
muito”. o que dizer para uma mãe que acaba de perder um filho pequeno (ou de qualquer idade) num acidente (não importa tb a forma)? o que
dizer para uma mãe que acalenta uma ausência? o que dizer para uma mãe que se
sustenta em pé por uma força que ela mesma desconhece? o que dizer para uma mãe
que não queria estar em pé, nem ao menos pensar, mas que precisa se manter
assim porque a vida lhe deixou um outro pedaço que precisa dela para crescer? não
sei. por mais que eu tente. por mais palavras que me sejam oferecidas. por mais
histórias que eu ouça. por mais dores que eu testemunhe. por mais que eu leia. por
mais que eu aprenda sobre as pessoas e sobre mim mesma. por mais tempo que eu
viva.“toda dor só é compreensível no idioma da dor. quem está de fora não
entende, não tem razão, não alcança sentido. a dor não busca conselhos; a dor
busca a pele pra colocar por cima...”.”não se escreve na dor, escreve-se para
manter distância dela”. talvez seja por isso que precisei escrever.
Oi, Tai!
ResponderExcluirMuito tocante e nobre o texto.
"a dor não busca conselhos; a dor busca a pele pra colocar por cima...”
Falou tudo!
Não vou me esquecer disso.
Um abraço.
Talvez seja por isso... bjs Tai
ResponderExcluirMauren Cipriani