7 de fev. de 2012

o idioma da dor


dentre as inúmeras coisas que gosto na vida, uma é a palavra. escritas, faladas e até das que ainda não foram ditas. me encanta a história das pessoas. impressionante como sempre tem alguém que tem alguma pra contar. quando percebo, estou ouvindo mais um capítulo. só que às vezes essas histórias me pegam de surpresa e me deixam no mais absoluto silêncio. as palavras escapam, somem, me pregam uma peça e simplesmente não dão o ar da graça. eu que me acho tão amiga delas, me sinto absolutamente só. insuficiente. o Carpinejar escreveu uma crônica, no livro, “o amor esquece de começar”, chamada “os pássaros comem na mão” (já citei aqui no blogue), que consegue expressar um pouco do que eu senti hoje.começa com a afirmação, “a minha dor eu sei resolver”. mas a negativa que nos perturba é: “o que não sei resolver é a dor do outro. fico mudo, meu braço sobra, minha mão falta, minha boca treme algum vento sem força. a dor do outro não se comunica.” não, não há comunicação razoável. ao me deparar com as palavras doloridas de uma desconhecida, só o que me restou foi uma expressão de espanto e lágrimas nos olhos. afaguei seu braço, olhei nos seu olhos e incrédula me reduzi a um “sinto muito”. o que dizer para uma mãe que acaba de perder um filho pequeno (ou de qualquer idade) num acidente (não importa tb a forma)? o que dizer para uma mãe que acalenta uma ausência? o que dizer para uma mãe que se sustenta em pé por uma força que ela mesma desconhece? o que dizer para uma mãe que não queria estar em pé, nem ao menos pensar, mas que precisa se manter assim porque a vida lhe deixou um outro pedaço que precisa dela para crescer? não sei. por mais que eu tente. por mais palavras que me sejam oferecidas. por mais histórias que eu ouça. por mais dores que eu testemunhe. por mais que eu leia. por mais que eu aprenda sobre as pessoas e sobre mim mesma. por mais tempo que eu viva.“toda dor só é compreensível no idioma da dor. quem está de fora não entende, não tem razão, não alcança sentido. a dor não busca conselhos; a dor busca a pele pra colocar por cima...”.”não se escreve na dor, escreve-se para manter distância dela”. talvez seja por isso que precisei escrever. 

2 comentários:

  1. Oi, Tai!
    Muito tocante e nobre o texto.

    "a dor não busca conselhos; a dor busca a pele pra colocar por cima...”

    Falou tudo!
    Não vou me esquecer disso.
    Um abraço.

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  2. Talvez seja por isso... bjs Tai


    Mauren Cipriani

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