O homem despedaçado
- Gustavo Melo Czekster -
Editora Dublinense
Comecei a leitura de O homem despedaçado com muitas expectativas. Imaginei que seria uma leitura difícil, principalmente pela minha falta de embasamento filosófico. Cheguei a essa conclusão depois de ler a orelha. Apesar de resistir em começar a leitura pela orelha, porque sempre acho que a opinião de quem escreve vai influenciar as minhas impressões, não resisto. Tampouco sou influenciada.
Depois da crise de início, me despi das armaduras filosóficas e mergulhei como uma simples leitora apaixonada por boas histórias e admirada com a capacidade de criação e fantasia de cada autor.
O livro traz 23 contos. Apesar da quantidade, a leitura flui, pois cada um é surpreendente a sua maneira.
Realmente não é uma leitura fácil. São muitos elementos históricos e fantasiosos, uma gama de personagens criativa e cuidadosamente nomeados e inseridos em diferentes contextos. Algumas histórias se complementam, mas em nenhum momento se repetem.
Em algum momento do livro, uma das personagens afirma que todas as palavras já foram ditas. Concordo. Em O homem despedaçado talvez não seja diferente. Os temas tratados aqui nos são familiares. Como amor, medo, morte, crueldade, sofrimento, perversidade, religião, vida, reflexão, generosidade, ciência, filosofia, sexo.
Mas não se iluda. A forma como cada um desses temas é narrado, não passa nem perto do comum, do banal.
É como se Gustavo nos fizesse, a cada conto, vivenciar outro mundo. Ou outros mundos. Ou o mundo dele. Ou o mundo criado por cada leitor. Ou por cada personagem.
Imaginação, fantasia. Palavras tão familiares no cotidiano das crianças e tão bem vividas por elas. O homem despedaçado me concedeu esse privilégio. O privilégio de mergulhar nos labirintos da imaginação, como - e de - gente grande.
Batalhas são vividas em quase todos os contos. A frase que abre o livro afirma: a vida não passa de uma espera pela batalha.
Pensei também na escrita. Talvez não passe de uma árdua batalha. Uma batalha contra nós mesmos. Contra a folha de papel que grita silenciosa. Contra a razão. Contra a emoção. Contra a expectativa alheia. Contra a nossa.
Me parece que tanto na ficção, quanto na vida é preciso coragem para vencer essas batalhas, ou pelo menos para passar por elas.
Um tanto clichê para concluir as impressões de um livro não clichê.
Mas quem disse que termina aqui. Você ainda não conhece as artimanhas que moram dentro dos passos humanos. Nem nos despedaçamentos deste homem.
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