2 de mar. de 2011

Traduzir-se
Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?


De Na Vertigem do Dia (1975-1980)



Vi um trecho desse poema no Blog da Jeq - Jeq's e adorei. 
Xará, valeu a dica!



2 comentários:

  1. Ferreira Gullar é o mestre!

    Fantástico, adooorei!!

    Beijos, querida!

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  2. Valeu a citação, Xará! :)

    Eu gosto demais desse poema, há anos ele me acompanha, parece escrito pra mim.

    Beijo, querida!

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