Traduzir-se
Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
De Na Vertigem do Dia (1975-1980)
Vi um trecho desse poema no Blog da Jeq - Jeq's e adorei.
Xará, valeu a dica!
Ferreira Gullar é o mestre!
ResponderExcluirFantástico, adooorei!!
Beijos, querida!
Valeu a citação, Xará! :)
ResponderExcluirEu gosto demais desse poema, há anos ele me acompanha, parece escrito pra mim.
Beijo, querida!